terça-feira, 27 de março de 2012

Por que eu ODIEI o segundo grau...

Ser adolescente já não é uma tarefa fácil. Quando ficamos adultos, percebemos que os adolescentes são chatinhos, cheios de vai-e-vem, de indecisões, conflitos onde um copo d'água se transforma num Tsunami, mas ser um adolescente não é mole, vamo combinar! Isso porque todo aquele lado biológico nos deixa parecendo como que numa montanha russa o tempo todo. E aí, vamos nós...
A minha revolução aborrecente adolescente começou cedo. Fora toda a explicação biológica acima, meu pai era um senhor muito cioso de seus deveres de não deixar os filhos meterem os pés pelas mãos. Daí, minha escapatória era a escola. Como? Escapatória? Sim, devia ser. Mas na escola eu simplesmente não conseguia, como dizem os americanos, "me encaixar" em grupo nenhum: o das patricinhas falava bobagem o tempo inteiro, e eu não tinha saco pra isso; o dos meninos (vulgo Clube do Bolinha) conseguia falar mais bobagens ainda; o dos poetas me inspirou por algum tempo (um ano) mas depois eu resolvi que as lucubrações elegíacas não eram meu forte; o dos nerds me chamava atenção, mas eu era preguiçosa demais pra estudar...
E lá ia eu, todo dia pra a aula: meninas sempre comentando de meninos (como se esse fosse o único assunto relevante na face da Terra), meninos bancando os gostosões, os nerds deslocados e eu, mais deslocada ainda... Eu parecia um zumbi, vagando de um lado pra outro na escola. Isso me fazia odiar o segundo grau, ainda por cima as pessoas pareciam esperar que eu fizesse sempre alguma coisa que agradasse a alguém... E eu, lógico, não fazia o menor esforço. Um belo dia, papai me chamou:

- Minha filha, venha conversar... 

Nessas horas, passa tudo na cabeça de um adolescente: pô, me ferrei!

- Você precisa se enturmar... (ele continuou) precisa ter amigos, ser popular, eu da sua idade tinha muitos amigos, saía, jogava bola, e você com esse walkman enfiado no ouvido o tempo todo?

Hahahaha!!! ME enturmar? Como é que uma pessoa que vive num exílio não-voluntário de não-pode-isso, não-dorme-na casa dos-colegas, não-vai-sozinha-pra-canto-nenhum, vai ter AMIGOS e vai SE ENTURMAR? O meu walkman (walkman = tataravô do MP3) era meu amigo de todas as horas, afinal, ouvir Legião Urbana, Capital Inicial e afins no auge do sucesso era o que havia... Eu, abandonar meu walkman assim? NUNCA!!! Sobre ser popular... bem, acho que o que ele menos gostaria de ter, na prática, seria uma filha "popular". Olhei pro meu pai, pasma da minha vida, afinal era só o que eu conseguia fazer na época: olhar pra ele fixamente. Acho que eu esperava que meus silêncios o fizessem chegar a uma conclusão mais-que-óbvia!

- Tá bom. - Respondi, meio sem convicção. Acho que convicção é o que me faltava na época. Convicção de que? Sei lá, de qualquer coisa...
Levantei-me e fui ouvir walkman. Papai às vezes ficava muuuuito arretado e eu não sabia por que. Hoje, sei que ele tinha ACABADO de falar sobre o walkman e lá fui eu ouvir o bendito de novo. Rsrsrsrsrs!! O fato é que eu não vi a hora de chegar na faculdade... ODIEI o segundo grau, de coração! Infelizmente, passei mais tempo no segundo grau do que o necessário, mas isso já é um outro post...